Há poucos dias, em que a chuva fez a rua escurecer, sai no
terraço e vi passar uma sombra assustadora volateando. Um morcego? Não, uma
raridade. A mariposa imperador. A maior do mundo, pelo tamanho se sabia. Nossa!
Soltei o grito de alegria. Há pouco me surpreendi com uma pepita de ouro sobre
o raminho verde que – graça à chuva – vencia o concreto no corredor do quintal.
Parecia uma flor, mas era uma mariposa dourada e do tamanho da minha mão. Tinha
o corpo rajado como um tigre e um casaco de pele sobre os ombros, como um leão.
Estendi meu dedo bem recebido. Sobre a palma notei que lhe pesava a agonia de
seus momentos definitivos, a asa já não prestava mais. Parecia em paz, mas
borboleta não tem voz, não grita. Como saber se está aflita? Lembrei-me de uma
prática pagã que diz que se você matar a primeira borboleta que ver em janeiro,
terá sorte o ano inteiro. Mas não era uma borboleta, era sua parenta; na
verdade, a mesma coisa. A mariposa é a borboleta noturna. E, pasme, é mais
forte; seu casulo é mais duro, precisa de tenacidade pra nascer e coragem pra
viver, pois enfrenta os predadores noturnos. Maiores, ferozes, famintos. Aquele
não era o fim digno que merecia: ser triturada pelos dentes afiados da gata, ou
levada pela enxurrada da chuva no fim da tarde. Não, pensei sobre o que eu
desejaria se fosse comigo e a resposta veio ligeira, indubitável. Eu ia fazer
eutanásia na borboletinha, rainha dourada, tigrada. No entanto meu coração se
apiedou. Frouxo! Covarde! Imaginei a imponente falando: Por que acha que tão
tranquilamente subi na sua mão? Por que acha que eu vim parar aqui? É porque te
conheço. Sabia que me notaria e me livraria de um fim doído e feio. Sei que é
capaz disso. Sua alma não guarda segredos a minha espécie, somos nós as
encarregadas de subir a alma do homem. Como ousa me desrespeitar assim? Conceda-me
a dignidade a que vim buscar. Que bobagem, pensei. De onde tirei esses
pensamentos? Vai, mariposa, irrite-me pelo menos. Mariposa pica? Não sei, mas
se você me picar eu juro que te mato sem pestanejar. Não houve nada. Resolvi
devolvê-la ao raminho, e então aconteceu. Pisei na merda. O corredor já tinha
sido limpo. Como não vi a Kira, minha labradora gorda, preta e enorme vir defecar
atrás de mim sem que eu percebesse? Que tipo de bruxaria é essa? Falei. Ah,
aquilo me irritou bastante. Ela morreu assim sem dor. Eu a esmaguei num átimo. Sabia
que não era a primeira borboleta que eu via. Mas fiz assim mesmo. Sem arrependimento,
aliviei seu sofrimento. Pra mim o certo é assim: dar ao outro o bem que desejamos
a nós mesmos. Até então ainda é janeiro, que a sorte nos brinde pelo ano
inteiro. Abençoada seja!
Estou de passagem neste mundo,
Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.
Eu sou o peregrino do tempo.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Casa na Floresta
Cidade de rios e de praias, montanha e floresta. No caminho
de Tordesilhas, relíquia do tempo, história guardada pra outro momento. Na casa
da bruxa, meu lápis me testa. Não é só ao trabalho que o corpo se presta! De
noite há fogueira e também rola festa. Criar e escrever em nobre companhia,
narrar novos sonhos, brindar fantasia! (de Kizzy Ysatis para Flávia Muniz)
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