Estou de passagem neste mundo,

Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.

Eu sou o peregrino do tempo.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Entre a honra e a enxurrada.


Há poucos dias, em que a chuva fez a rua escurecer, sai no terraço e vi passar uma sombra assustadora volateando. Um morcego? Não, uma raridade. A mariposa imperador. A maior do mundo, pelo tamanho se sabia. Nossa! Soltei o grito de alegria. Há pouco me surpreendi com uma pepita de ouro sobre o raminho verde que – graça à chuva – vencia o concreto no corredor do quintal. Parecia uma flor, mas era uma mariposa dourada e do tamanho da minha mão. Tinha o corpo rajado como um tigre e um casaco de pele sobre os ombros, como um leão. Estendi meu dedo bem recebido. Sobre a palma notei que lhe pesava a agonia de seus momentos definitivos, a asa já não prestava mais. Parecia em paz, mas borboleta não tem voz, não grita. Como saber se está aflita? Lembrei-me de uma prática pagã que diz que se você matar a primeira borboleta que ver em janeiro, terá sorte o ano inteiro. Mas não era uma borboleta, era sua parenta; na verdade, a mesma coisa. A mariposa é a borboleta noturna. E, pasme, é mais forte; seu casulo é mais duro, precisa de tenacidade pra nascer e coragem pra viver, pois enfrenta os predadores noturnos. Maiores, ferozes, famintos. Aquele não era o fim digno que merecia: ser triturada pelos dentes afiados da gata, ou levada pela enxurrada da chuva no fim da tarde. Não, pensei sobre o que eu desejaria se fosse comigo e a resposta veio ligeira, indubitável. Eu ia fazer eutanásia na borboletinha, rainha dourada, tigrada. No entanto meu coração se apiedou. Frouxo! Covarde! Imaginei a imponente falando: Por que acha que tão tranquilamente subi na sua mão? Por que acha que eu vim parar aqui? É porque te conheço. Sabia que me notaria e me livraria de um fim doído e feio. Sei que é capaz disso. Sua alma não guarda segredos a minha espécie, somos nós as encarregadas de subir a alma do homem. Como ousa me desrespeitar assim? Conceda-me a dignidade a que vim buscar. Que bobagem, pensei. De onde tirei esses pensamentos? Vai, mariposa, irrite-me pelo menos. Mariposa pica? Não sei, mas se você me picar eu juro que te mato sem pestanejar. Não houve nada. Resolvi devolvê-la ao raminho, e então aconteceu. Pisei na merda. O corredor já tinha sido limpo. Como não vi a Kira, minha labradora gorda, preta e enorme vir defecar atrás de mim sem que eu percebesse? Que tipo de bruxaria é essa? Falei. Ah, aquilo me irritou bastante. Ela morreu assim sem dor. Eu a esmaguei num átimo. Sabia que não era a primeira borboleta que eu via. Mas fiz assim mesmo. Sem arrependimento, aliviei seu sofrimento. Pra mim o certo é assim: dar ao outro o bem que desejamos a nós mesmos. Até então ainda é janeiro, que a sorte nos brinde pelo ano inteiro. Abençoada seja!

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Casa na Floresta



Cidade de rios e de praias, montanha e floresta. No caminho de Tordesilhas, relíquia do tempo, história guardada pra outro momento. Na casa da bruxa, meu lápis me testa. Não é só ao trabalho que o corpo se presta! De noite há fogueira e também rola festa. Criar e escrever em nobre companhia, narrar novos sonhos, brindar fantasia! (de Kizzy Ysatis para Flávia Muniz)