Estou de passagem neste mundo,

Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.

Eu sou o peregrino do tempo.


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

SANTO PIRILAMPO
Andava cego, sem qualquer fiapo de luz, ou contorno de esperança. Sem ao menos o brilho fugidio de uma vela mansa que me adoçasse a vista com uma forma vaga de caminho. Uma totalidade opaca de um nada sufocante, um universo sem estrela, um pano preto pesado e mofo me esmagando. E eu a gritar descontente. Sopro inútil no vácuo do espaço mudo e quente, do passado inócuo, velocíssimo na insensatez do verbo imóvel, morto, enterrado no adeus. Do que não sustenta existência e simplesmente morre. E esperei não sei o quê assim sem pressa. E ele veio despretensioso, vagaroso, ziguezagueando assim pequeno. Esqueci que vinha. E sempre vem. Eita! É milagre! Surgiu novamente na natureza daquele que sabe que tem, confia no que é e esbarra no que pode ser. Ele em mim pousou. Num alivio de afogamento, num estouro de fé. Num chispar de alento, num retorno de vida. Como estrelinha miúda e mesmo assim divina. Acendeu-se. Iluminando todo o evento do ser, trazendo de volta a luz da idéia.
O texto abaixo um poema do Artur dedicado à Mari.
Hoje, 24 de novembro, é aniversário de um ano de namoro deles.
Parabéns aos pombinhos!
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Vejo o brilho intenso dos teus olhos
Iluminar por completo o meu ser
Vejo na constelação que é o teu sorriso
O objetivo maior para viver
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Protejo-me envolto em teus braços
Alivio-me da dor em teu ombro amigo
Renasço ao sentir o doce em teus lábios
A Grande Majestade que é estar contigo
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Aprendi que o maior tesouro que tenho na vida
Maior que as colinas de ouro, é certamente
A sua companhia, Oh minha doce sibila
Reina em minh' alma o amor evidente
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Melhores momentos os que passei ao teu lado
Aprendi o que é o amor ao estar com você
Raio de sol que ilumina o meu dia
Irradia minha vida, só com você sei viver

domingo, 23 de novembro de 2008

kizzy ysatis
Deus dá bons e maus tempos, mas não quer que nos tempos maus choremos e lamentemos; quer a prova de que somos homens. Ele dera um sinal. A enganadora imagem da cidade, em dourado e na rubra cor de sangue, fora uma advertência: trate de agir.

Patrick Süskind, O Perfume

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A roda da foice
Primeiro encontro
parte um: MOSAICO

Sufocado por bagunça e sujeira; vítima de estranha angústia – estranha como só angustia pode ser – Kizzy está em seu escritório. Repare que ele tem trinta e um anos, veste um manchado roupão azul e, sentado na poltrona diante do computador, ensaia um texto. Os fones de ouvido com chiado desfiam o piano de uma trilha sonora triste. Pára ao mergulhar a colher no pote de sorvete de chocolate. Segue escrevendo, pára e sai no quintal para fumar no escuro olhando a lua das quatro e meia da madrugada.
Sofre de um bloqueio criativo desde o término de seu romance, Diário da Sibila Rubra. Traumatizou-se se espremendo para reescreve-lo tantas foram as vezes que achou necessário para que ficasse ao seu gosto e assim ser publicado no pouco tempo que dispunha; enforcado com o prazo, ignorando a cobrança da editora que queria o livro a tempo para a Bienal. “Prefiro não lançar, a entregar uma porcaria escrita às pressas como outros fazem por aí”, defendia-se, mas terminou o livro do jeito que queria. Achou as soluções certas e contou com a leitura simultânea de um amigo que criticava seu livro em tempo real. O lançamento foi um sucesso, mas Kizzy não se recuperou desde então. Bloqueio. Impotência mental. Faz quatro meses? Acredita que criou uma espécie de fobia. Odeia metáforas escatológicas mas realmente parece alguém com prisão de ventre, porque não consegue expor uma coisa que lhe é natural, mas não é merda que quer lançar ao mundo, são flores. Para ele o mundo já está encardido demais, assim como seu escritório, a casa inteira e seu roupão. “Sim”, pensou, “minha casa é o retrato do mundo atual, um ciclone de informação que em sua maioria não nos serve para nada a não ser para tomar tempo. Perdemos tempo com tanta utilidade inútil que nos esquecemos do essencial. E o que é essencial? O essencial é invisível para os olhos, dizia Saint-Exupery”.
E agora? Não consegue escrever, foi consumido pela preguiça. Quer falar sobre o encontro da Roda da Foice, um encontro com amigos escritores que aconteceu horas antes, mas agora está cansado demais. Ficou, horas, emperrado na releitura e reforma do novo romance que co-escreveu, A Morta Vaidosa. Desliga o computador e vai dormir. Na verdade está com medo, está inseguro. Quer ser tão bom quanto os colegas. No fundo acredita nisso mas então o que o impede? “Talvez esses colegas possam me ajudar”, pensa com a cabeça no travesseiro, “Alguns deles são meus amigos, outros acabei de conhecer mas parecem legais...
Meu cabelo está fedendo a cigarro”.
O piano triste e intenso continua na cabeça mesmo sem os fones.
“Todos são legais no primeiro dia, quero ver depois”. O pensamento se desvia para um turbilhão de cobranças que o assombram todos os dias. Renega tudo ao pensar no amor, mas logo adormece e sonha. O sonho é misturado como todo sonho é... É um mosaico.

domingo, 16 de novembro de 2008

"Como foi seu dia?"
Et comment les choses sont en train de changer pour mieux! ...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008


Assombrando Mogi das Cruzes: espectros do passado, memórias do futuro. (parte um de dois)

Estive em Mogi das Cruzes hoje como o espectro de mim mesmo, revirando lembranças de gavetas emperradas na cômoda do anteontem. Desembarquei do trem no centro da velha terra do caqui; passei pelas mesmas ruas que costumava perambular; visitei alguns sebos, mas não comprei livro algum. A nostalgia me devorava dum jeito que a letra não conta, sonda. Limito-me a dizer que me comovi e deixei que as pernas me levassem pra onde quisessem sem perguntar, mas sabia aonde iam e mesmo assim deixei.

Diante da velha casa, uma das casas da saudosa infância, lembrei da mãe perdida e a vi, em minha mente, caminhar no quintal e acenar pra mim, até eu estava ali, mas era um garotinho a brincar no quintal, Quem é o moço no portão, mãe?, É um homem que veio dizer que vai cumprir a promessa que fez a um menino, Que menino, mãe? O menino que ele foi um dia. Dito isso, minha mãe, aquela bruxa ligeira, desapareceu junto com o resto da miragem e a casa voltou a ser abandonada e sombria. Não consegui conter o choro.

Refiz o caminho da escola: Leonor de Oliveira Mello. Conversei com a mulher e pedi que me deixasse visitar meu passado escolar; o pátio, os corredores... Enquanto ela se ausentava pra perguntar na secretaria se podia fazer o dia de um ex-aluno um pouco mais especial, observei, dali da entrada da secretaria, o pátio e o palco que, como tudo de nossa infância, fica menor quando re-visitamos. Olhe só, aqueles bebedores dão no meu joelho; será que eu era assim tão pequenininho? A mulher maldita voltou com a notícia de que eu não podia entrar, deu uma desculpa esfarrapada. Frustrado, permaneci ali naquele instante a divagar no limiar de outrora e de onde não podia passar. Aquilo foi um sinal. Eu não podia passar dali. Senti-me o fantasma que vê e não pode saudar os entes queridos porque morreu e não lhe é permitido retorno. Bateu tristeza. A voz levemente embargada, Tudo bem, disse-lhe com os olhos assim a segurar as lágrimas, ...Tento outro dia. Mentira; eu sabia que não voltaria. Ficou tudo pra trás, aqueles sete anos de aprendizagem e amizade e divertimento e descoberta e... e o que mais? (continua...)