Estou de passagem neste mundo,
Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.
Eu sou o peregrino do tempo.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Dona menininha e o portão
sábado, 9 de novembro de 2013
A beleza que nos cerca
(Kizzy Ysatis, São Paulo, 8 de novembro de 2013)
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Entre a honra e a enxurrada.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Casa na Floresta
sábado, 22 de dezembro de 2012
NATAL
Quando criança: (mesmo com o presépio) é quando o Papai Noel vem trazer brinquedos.
Quando cresço um pouco: (me conscientizo) é o nascimento de Jesus, e também é quando a gente se arruma pra desfrutar aquela comidinha gostosa com a família e trocar presente.
Quando fico adulto: (e me conscientizo novamente) é quando a gente janta com a família e tenta não discutir, mas rola comidinha gostosa e troca de presentes. É quando o Papai Noel se torna uma mentira que sou obrigado a contar pras crianças, e o presépio se torna um adereço.
quinta-feira, 8 de março de 2012

Nossas vizinhas beatas, vira e mexe, criticavam minha mãe, que não participava das reuniões religiosas.
Quando ia brincar nas casas dos amigos, suas mães me pressionavam. O que para mim é errado. Envolver criança em conversa de adulto? Que maldade.
Eu estava assistindo desenho, na minha casa, mas perdi o interesse. De repente, achei-me olhado para a janela, com os olhos vidrados no silêncio da samambaia. Minha mãe passou por mim e percebeu essa viagem.
“O que foi, meu anjinho? Que carinha é essa?”
Então o assunto apareceu e eu perguntei por que ela não ia à igreja. A resposta veio com uma pergunta:
"Cris, tua mãe vai fazer o que na igreja?"
"Rezar"
"Rezar, eu rezo aqui"
"Mas a igreja é a casa de Deus"
"Que nada. Deus tá aqui, quer ver?"
Fiquei assustado e não disse nada.
"Vem cá com mãe"
Levou-me no quintal.
"Tá vendo?"
"Só as árvores e as plantas da senhora"
"Fecha os olhos e fica quietinho"
Fechei.
"O que você tá sentindo?"
"O vento"
"Não é o vento. Isso é Deus respirando"
Quando senti a brisa, pensando em Deus, deu vontade de chorar. Porque Deus tinha tocado em mim; no meu braço; no meu rosto. Alisou meu cabelo. Não ventava na Igreja. Lá, Deus não tocava em ninguém daquele jeito.
"Abra os olhos. Olha pra mãe."
"Tô olhando"
"Quando quiser ver Deus, olha pra natureza."
"Mas a mãe do..."
"Acredita mais na tua mãe ou na mãe dos outros?"
"Claro que na minha!" respondi, convicto.
"Ah, bom"
Ela me deu um cheiro e voltou aos afazeres. Era firme e carinhosa ao mesmo tempo. Uma leoa. Perto dela, eu era uma gelatina. Entramos e eu voltei a assistir desenho. Mas algo na janela puxava meu rabo de olho. Olhei. Era a samambaia acenando. Só aí que eu me toquei que antes não estava ventando.
domingo, 26 de fevereiro de 2012

Eu me lembro, que quando minha mãe partiu, descobri que a morte era a coisa mais dolorida do mundo. No entanto, quando a tia gorda veio cuidar da gente, descobri que o amor confortava, e que nós aqui em casa não estávamos sozinhos. Lembro-me que quando meus primos Douglas e Danilo vieram nos visitar, eles me alegraram. Eu os levei pelo bairro para passear, então me veio a ideia de lhes mostrar um lugar especial. Não disse o que era, mas eles confiaram cegamente. Embarcamos no trem e fomos para Mogi das Cruzes. Eu os levei para a montanha mais alta. Pelo caminho, brincamos e rimos de nossas piadas mais bobas. Douglas reclamou da subida, mas não desistiu. Ele não sabia, mas era um lugar onde certa vez levei minha mãe. Chegamos ao alto da montanha, quietos e pasmos. O cansaço de Douglas pareceu se dissipar com as nuvens. Seus olhos percorreram o horizonte de uma paisagem lindíssima. Na descida, voltamos a fazer gozações e Douglas brincava: “Cris, você trouxe a gente aqui pra subir esse morro?” Perguntei se ele estava arrependido. Ele disse que não. Lá de baixo, o morro era tão alto e distante que parecia impossível imaginar que tínhamos subido. Aquela imagem ficou gravada na memória. Fomos ao shopping lanchar. Depois, voltamos para casa. Pelos anos que se seguiram, todas as vezes que me encontrava com o Douglas e o Danilo, a gente se lembrava de nossa aventura. Um dia, a tia gorda disse tchau. Tempinho depois, o Douglas disse adeus. Não sei o tamanho dos meus dias, mas hoje posso dizer, com certeza, que tanto do outro lado quanto deste há quem nos espere. Há quem nos ame. Há quem nos ampare. E que bom que o Douglas voltou a enxergar, pois agora poderá revisitar a montanha quantas vezes ele quiser, sem se cansar.
Boa viagem, primo.
Com carinho,
Cris.
sábado, 19 de novembro de 2011
Oração do sábado à noite:
Quero uma bebida que me faça delirar;
Uma música que me faça ferver;
Uma lembrança que me faça chorar;
Um beijo que me faça verter.
Kizzy Ysatis (SP, 19/11/11)
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Gritos na trovoada
Eu ouvi o trovão e não tremi.
Ouvi o trovão e ele me chamou.
O trovão arrebenta meteoros e muros.
Ouvi o trovão e não tremi.
Peguei em armas e encarei a chuva.
Este é o ano da tempestade,
E eu sou o trovão.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Quem é aquela mulher de 30 colhendo flores há 30 anos?
Eu sei! E tantos passam sem passar...
e os que existem existem por serem notórios.
Ah, cansei-me de me diluir em personagens diversos.
Sou meu melhor personagem.
Quero mais coragem para me jogar no abismo de mim,
passar passando, deixar cicatriz no tecido do mundo,
esgarçar a alma de tanto viver.
Morrer... me sabendo vivo.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SOBRE LYGIA
Este livro me é especial porque a assistente dela me ligou para dizer que ela tinha um presente para mim - ela se lembrou de mim! - e que eu fosse apanhá-lo na Academia de Letras. "Diga na portaria que você é meu convidado", isso ela mesmo disse. Ela me deu o livro autografado. Meu nome estava certinho; e antes dele vinha a palavra: escritor. Depois que os outros ancestrais já haviam ido pra casa, somente ela e eu ainda insistíamos nas risadas e conversa molhadas na cerveja gelada que o mordomo Luis nos servia. Fumávamos porque podia. Ora, quem manda alí é ela. Eu pouco falava... apaixonado por sua voz e narrativa, tal como outro homem descreve bem abaixo:
"...rimos, folgamos e bebemos. Não dramatizamos as diferenças na hora da discussão – entre escritores portugueses e brasileiros só por má-fé e cínica estratégia se instalará a discórdia. Recordo a hora do café da manhã, com o sol a entrar triunfante pelas janelas. Ao redor das mesas o riso dos novos não soava mais alto nem era mais alegre que o dos veteranos, os quais, por muito terem vivido, gozavam da vantagem de conhecer mais histórias e mais casos, tanto dos próprios como dos alheios. Não é uma ilusão minha de agora a imagem de terna atenção e respeito com que todos nós, portugueses e brasileiros, escutávamos o falar de Lygia Fagundes Telles, aquele seu discorrer que às vezes nos dá a impressão de se perder no caminho, mas que a palavra final irá tornar redondo, completo, imenso de sentido.
Disse que conheço Lygia desde sempre, porém a medida deste sempre não é a de um tempo determinado pelos relógios e pelas ampulhetas, mas um tempo outro, interior, pessoal, incomunicável." (JOSÉ SARAMAGO)
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Ora, não vou mais me submeter às tortuosas horas de puro desconforto em prol das pessoas que amo. Não vou mais aceitar convites de festinhas de crianças de filhos dos outros. As crianças não me incomodam, porque não estão lá para as aparências, mas somente para a diversão, e isso é tão minha cara. Posso muito bem visitar meus amigos e seus filhos, meus parentes e seus filhos, em horas nossas; mas não mais participar dessas cerimônias que celebram as convenções das quais não faço parte e tampouco quero fazer. Por quê? Ora, os humanos se multiplicam, e isto eu acho natural. Fico feliz pelos amigos e irmãos porque a felicidade dos meus é a minha felicidade. No entanto incomoda-me seu olhar de piedade ou o de alguns de seus convidados “Oh, pobre dele, é solteiro e não tem filhos”. Isto eu não acho natural, só acho burro, acho estúpido que diminuam a capacidade de reflexão, o pensamento, à altura de sua fisiologia. Isto eu acho vulgar. Pois não sabem sequer distinguir que o que é bom pra eles não necessariamente precisa ser bom pra mim, portanto não me faz falta. O terror que sentem em não ser mais um, de não fazer parte do grupo, não me assombra. Gosto de ser singular. E quando não são capazes de entender ou respeitar meu ponto de vista, muito embora, como já explanei, eu entenda o deles, é quando me emputeço; é quando não tenho piedade nenhuma, mas nojo. Eu não sou piedoso? Sim, sou, mas nem sempre. Os que eu amo e me amam não possuem a intenção de me cutucar, o fazem sem saber; no fundo, sinto a pena em seus olhares e isso me causa algum desconforto, coisa que de qualquer modo antes tolerava pelo bem de estar geral, do qual de hoje em diante não vou mais me doar. Eu os curtirei em horas nossas, e horas coletivas só quando comemorarem a amizade ou o dia de seus anos. Sobre festas de família, quando quiser ir sozinho, eu vou. Quando quiser levar companhia, um amigo ou amiga, que seja, para ter o que se conversar extra os papos familiares, e não permitirem, porque meu convidado (a) “não é da família” nem cacho meu, então eu declinarei. Sobre aos enlaces, deixarei bem claro: não vou durante a parte religiosa. Só irei à festa, se quiser, convide, senão, dou de ombros. Em resumo, para ajudar os retardatários antes que abram a boca pra comentar estrume, não me incomoda não ter o que outro tem, nem ser como ele é, incomoda o olhar do outro, não do outro, mas do próximo, dos meus, ou mesmo seus convidados, daqueles que não são como eu ou infelizmente estão aquém de uma compreensão superior.
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Devo desculpas aos meus leitores cariocas, tivemos de cancelar o lançamento na Bienal, o livro não ficaria pronto a tempo. Os motivos são óbvios: as mudanças (todas para melhor, não me arrependo). Quem me conhece sabe que jamais colocaria à venda um livro porco feito às pressas. Qualidade em 1º lugar, respeito meus leitores. Muitos autores se entristecem nesta situação, mas é porque se esquecem do essencial: a Bienal dura só alguns dias, o livro é para sempre.