Aqueles que habitam o Paralelo Noturno
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XI - Lobisomens; unam-se para a batalha!
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As motocicletas, nada convencionais, alinhadas na frente do bar descrevem seus visitantes. Homens de colete preto ostentam orgulhosamente os símbolos de seus respectivos moto clubes.
A espelunca fedia a couro, suor e cerveja. O volume altíssimo gritava “Born to be wild” pela centésima vez nas caixas de som sem que isso incomodasse seus frequentadores; muito pelo contrário, para os motociclistas esta música é um hino venerado.
O velho Pimentel, presidente do Fúria, abria mais uma garrafa; um membro dos Abutres saia e um do Zapata chegava.
Na mesa imediatamente vizinha da caixa de som, três membros do Leão Negro moto clube conversavam sem que o barulho lhes ofendesse a audição; na verdade era um aliado que abafava o conteúdo da conversa:
— Daniel, tô feliz pra caramba em ver que você está bem — disse Juliano.
— Eu também — acrescentou Leonardo.
— Obrigado. Eu também estou feliz em rever vocês dois.
Daniel fora sincero, muito embora a melancolia na voz e na expressão fosse indisfarçável; lembrava aqueles que não tiveram a mesma sorte.
Leonardo prosseguiu o bate-papo:
— Que chato o que aconteceu com o Billy.
Parecendo ofendido, Daniel soou orgulhoso:
— Ele caiu lutando.
Sem falar nada, bateram os copos em respeito.
— Não consegui salvá-lo.
— Para com isso, Daniel. Você salvou Ernesto.
— Ajudei, mas os vampiros estavam em maior número.
— Quantos?
— Dois pra cada.
Leonardo estava curioso:
— Eram de primeira ou segunda classe?
— Segunda.
Sem intenção, Juliano pareceu debochar:
— Não são muitos.
Daniel matou o que tinha no copo e se serviu de mais enquanto achava as palavras certas:
— Nos pegaram de surpresa.
Leonardo se indignou:
— Covardes!
— Eu não teria conseguido dar conta sem o Barbosa.
— Não fala isso, Dani. Você é um dos fortões.
— Mas é a mais pura verdade; o Bar salvou minha bunda.
— Ah, o Bar é foda! Ele e aquela machadinha cheroqui.
Daniel concordou:
— Verdade. Ele nunca erra. Mesmo assim estávamos cercados. Nossa sorte foi o Roberto ter chegado.
— Vixe! Coitado dos vampirinhos.
— O Roberto é sem-noção.
Daniel finalmente sorriu:
— Há! Vocês precisavam ter visto, ele expulsou eles no berro. Chegou tocando o foda-se. Até eu me assusto com o berro dele.
— Fala sério, qualquer um. Até o Luar se assusta com o berro dele.
— Pode crer, lembra lá no Araçá? Quando o Roberto uivou, Luar não pensou duas vezes, pegou o moleque dele e saiu voando pelas campas.
Gargalhando, os três brindaram de novo, agora para o Roberto. Aproveitando o ensejo, Leo perguntou:
— Então, quando será a festa?
— Talvez neste fim de semana.
— Quantos de nós vão vir?
— Todos.
— Caramba, a coisa tá ficando mais séria que eu pensava, não nos reunimos assim desde 2003, naquele lance em Santa Catarina, no quintal das sibilas, lembra?.
— Isso mesmo. Fausto falou que essa pode ser nossa última briga com os caras do Montserrat. Juntos teremos mais chances.
— Se é que temos.
— Só saberemos quando chegarmos à mansão, mas aposto meu canino que o chefe tem um plano.
Juliano quase gaguejou:
— Quantos membros já perdemos... no total?
— Quase vinte.
— Caraca! Que baixa feia.
— O pior é que fomos pegos aos poucos, sozinhos, sorrateiramente.
— De predadores passamos a presa.
— Fausto disse que veremos a iniciação de um novo membro.
— Como se chama?
— Fernando.
— É dos fortes?
— Não faço idéia.
Leonardo e Juliano ficaram ansiosos:
— Então vamos descobrir. Vamos pra mansão.
— O pessoal já chegou? — Leo perguntou preocupado.
Daniel tranquilizou:
— Estão vindo. Nos encontraremos lá.
Juliano tinha pressa agora:
— Bora daqui?
— Vão na frente, vou esperar o grandão.
— Legal! O Roberto tá vindo sozinho!
— Ele sempre vem. Aquele porra não conhece o medo. Embora Fausto tenha mandado a gente andar em grupos; e de preferência acompanhados de um dos fortes.
Leonardo confirmou:
— Tô sabendo, o Andréas tá seguindo a gente.
E Juliano deu detalhes:
— Farejamos ele, mas sabe como é, o Andréas não se mistura com os “moleques”.
— Ok. A gente se vê no clube. Mas cuidado. Se farejarem perigo, uivem alto.
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[Continua na terça]
LEÃO NEGRO
A busca pelo vampiro Luar
Um romance de KIZZY YSATIS