Estou de passagem neste mundo,

Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.

Eu sou o peregrino do tempo.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Sibila da Líbia, arte de Michelangelo na Capela Sistina, Vaticano
SIBILA
.
Agora é a vez de Sibila.
Ela não tem voz e canta.
É rouca mas canta.
Muda, haveria de cantar.
Canta com os nervos
com os músculos
com todo o corpo
até com os cabelos.
Ah! Seus cabelos
vieram da selva
têm a idade da pedra
tombam de rampas refolhudas
em catadupas.
Quem viu o rosto da Sibila?
Quem se arriscou ao fundo do poço
à procura de humanos traços?
Talvez ela não tenha rosto:
é múltipla inumerável
no vídeo na estratosfera.
Entanto, é única – estrutura
vaso comunicante
de eventos e mais eventos
que se dissolvem logo
nos aludes do tempo
(Os peixes são portados
em velocíssimas bandejas
de uma a outra galáxia).

Porém, a Sibila – sílfede
Cassandra ou semáforo
o que canta, o que silva,
o que anuncia, o que remorde
entre balbúrdia e balbucio
nesse idioma a pilhar
de esmaecida memória?
Não há sabê-los: a mensagem
Tem cifra e as sete trombetas
de em torno são aquelas mesmas
profusas destoantes e estrídulas
do Apocalipse. Basta escutá-las
junto ao desmonte das ladeiras –
a mergulhar no abismo.

Henriqueta Lisboa (1901-1985)

4 comentários:

Somerset disse...

Ah.. as Sibilas, fora a história delas que me animara tanto na época em que me encontro de provas finais *-*
É tão bela, emocionante e encatadora a jornada que traz seu livro. Não canso de relê-lo, tanto ele quanto o Clube.

Obrigada mais uma vez por revelar seu talento tão maravilhoso de uma forma tão estonteante!
Você é demais, Kizzy.

Anônimo disse...

Kizzy, querido!

O Ivan (lembra dele, né?!) da Soulshadow disse para você levar o Diário da Sibila para expor lá na loja... ele disse que quer falar com você, pois você sumiu da festa naquele dia...!!!


Amplexos,
Lu

Yash disse...

ah,, sibilas.. qual a estranha "coincidencia" de hoje terminar de ler o livro e agora ler tal poesia.
É tão mágico e diferente que traz um pouco de paz a um coração um tanto apertado..

Amáveis tais palavras.

Kizzy Ysatis disse...

obrigado Mari,

suas palavras são um bálsamo que motiva a continuar.

alguma coisa aprendi a fazer e a gostar ao mesmo tempo.

nessa última década que me voltei completamente à literatura trazendo comigo a bagagem de toda minha vida junto.

beijão
...........

Lu

eu não sumi da festa, até me despedi dele depois que acertei a conta com ele mesmo.
pode deixar que assim que sobrar um tempo, eu levo um livro lá.

agradece a ele por mim a atenção.

darkisses
..........

enim

fico feliz que tenha chegado ao fim de mais um livro meu, mas lembre-se, coincidências não existem.

estou te devendo uma resposta de e-mail, mas não esqueci não.

amáveis foram as suas palavras

bjs