Estou de passagem neste mundo,

Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.

Eu sou o peregrino do tempo.


quinta-feira, 13 de agosto de 2009


um escritor esculpido em terracota

claudio brites é um dos escritores mais brilhantes que conheço. tem se destacado silenciosamente, porém de maneira rápida, com um público fiel e de bom gosto, conquistando admiração e respeito até de escritores da mais alta estirpe, como marcelino freire e nelson de oliveira. engajado no universo da arte das letras. caminha em busca da própria voz, voz que já encontrou, apenas não se deu conta disso.

autor convidado: claudio brites

conto: zugzwang

segundo a wikipédia, zugzwang (termo de origem germânica), no enxadrismo, é uma expressão que indica uma dada posição no tabuleiro, na qual mesmo os dois enxadristas não tendo igualmente nenhuma opção favorável, um deles será obrigado a fazer o seu lance primeiro, em razão das regras do xadrez, indo para uma posição mais desfavorável ainda ou à derrota imediata.

no conto de brites, engendrado para o território v, dois vampiros jogam xadres há duzentos anos e, em determinada noite, um dos jogadores apresenta uma novidade ao adversário e companheiro.

leia um trecho do conto:

– É a sua vez.
As peças fazem mais sentido e o jogo parte para caminhos restritos. O vampiro que jogava não está mais perto do tabuleiro; mexe em alguma coisa na estante de vidro. A sala é habitada por um tabuleiro de xadrez sobre uma mesa de madeira, duas poltronas cor de velhice e um quadro na parede.
– Sua vez, jogue – repete o vampiro em pé.
Os dedos do vampiro fumante não se movem um grau, assim como seus cabelos e pálpebras, fechadas. Ele fica ali, existindo na haste de tabaco e ervas finas. Caça sentido na dicotomia dos quadrados e nos cheiros da rua.
– Por que ainda jogamos?

se valendo da metaficção e astúcia literária, o autor nos envereda em um diálogo que traz luz à feitura de uma narrativa, dos desejos secretos humanos e mostra que o que queremos pode ser alcançando, mas tudo depende da jogada certa.

Claudio Brites nasceu em São Paulo, durante 1983. Professor universitário, mestrando em linguística, estuda a metaficção na literatura nacional (quer descobrir o segredo). Publicou em algumas antologias, entre elas Moscas (Dulcinéia Catadora, 2007), organizada pelo escritor Marcelino Freire. Organizou o famigerado O Livro Negro dos Vampiros (Andross, 2007). É um dos autores do romance épico A Tríade a ser lançado brevemente. Pai atrapalhado, marido relapso, guarda moedas na estante de livros. Seu primeiro contato com a literatura foi aos 14 anos, depois de ser humilhado por um grupo de meninos, que o chamavam de gordo e quatro olhos, fugiu a biblioteca da escola, em uma das estantes havia um livro caído sobre os outros, de capa eterna e páginas azuis, entrou nele e virou deus; seus perseguidores, porcos.
Claudio voa, mas ainda não sabe fazer chover.
hipocentro.blogspot.com.

hoje é 13 de agosto e a batalha tem início – agora!

2 comentários:

gui-de-bauru disse...

Se tem uma "breve biografia" que me encasquetou foi a do Brites.

Não houve nada tão poético quanto haver nascido 'durante' 1983. Que diabos, parece que cada minúsculo dia de 83 teve um de seus ápices em dar Brites à luz e isso se assemelha a parecer que reiteradamente estivera ele nascendo e ruminando os passos que haveria de dar durante a vida...

O famigerado 'O LNV' é saudoso, foi ontem aquele domingo na Casa das Rosas, certo?

Por fim: que livro era o que estava caído sobre os outros, de capa eterna e páginas azuis?

Abraços.

Claudio Brites disse...

meu caro irmão, sua generosidade me comove (com direito a lágrimas e arrepios). obrigado pelas palavras cheia de significado, ainda mais vindas de você que se relaciona tão bem com elas.
sou um tentador, no sentido que vivo tentando... só isso.
beijos e obrigados