SIBILA
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Agora é a vez de Sibila.
Ela não tem voz e canta.
É rouca mas canta.
Muda, haveria de cantar.
Canta com os nervos
com os músculos
com todo o corpo
até com os cabelos.
Ah! Seus cabelos
vieram da selva
têm a idade da pedra
tombam de rampas refolhudas
em catadupas.
Quem viu o rosto da Sibila?
Quem se arriscou ao fundo do poço
à procura de humanos traços?
Talvez ela não tenha rosto:
é múltipla inumerável
no vídeo na estratosfera.
Entanto, é única – estrutura
vaso comunicante
de eventos e mais eventos
que se dissolvem logo
nos aludes do tempo
(Os peixes são portados
em velocíssimas bandejas
de uma a outra galáxia).
Porém, a Sibila – sílfede
Cassandra ou semáforo
o que canta, o que silva,
o que anuncia, o que remorde
entre balbúrdia e balbucio
nesse idioma a pilhar
de esmaecida memória?
Não há sabê-los: a mensagem
Tem cifra e as sete trombetas
de em torno são aquelas mesmas
profusas destoantes e estrídulas
do Apocalipse. Basta escutá-las
junto ao desmonte das ladeiras –
a mergulhar no abismo.
Henriqueta Lisboa (1901-1985)
Um comentário:
Ha Henriqueta...doce saudade de ler amo *_*
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