Estou de passagem neste mundo,

Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.

Eu sou o peregrino do tempo.


quarta-feira, 21 de julho de 2010

SIBILA

.
Agora é a vez de Sibila.

Ela não tem voz e canta.

É rouca mas canta.

Muda, haveria de cantar.

Canta com os nervos

com os músculos

com todo o corpo

até com os cabelos.

Ah! Seus cabelos

vieram da selva

têm a idade da pedra

tombam de rampas refolhudas

em catadupas.

Quem viu o rosto da Sibila?

Quem se arriscou ao fundo do poço

à procura de humanos traços?

Talvez ela não tenha rosto:

é múltipla inumerável

no vídeo na estratosfera.

Entanto, é única – estrutura

vaso comunicante

de eventos e mais eventos

que se dissolvem logo

nos aludes do tempo

(Os peixes são portados

em velocíssimas bandejas

de uma a outra galáxia).


Porém, a Sibila – sílfede

Cassandra ou semáforo

o que canta, o que silva,

o que anuncia, o que remorde

entre balbúrdia e balbucio

nesse idioma a pilhar

de esmaecida memória?

Não há sabê-los: a mensagem

Tem cifra e as sete trombetas

de em torno são aquelas mesmas

profusas destoantes e estrídulas

do Apocalipse. Basta escutá-las

junto ao desmonte das ladeiras –

a mergulhar no abismo.

Henriqueta Lisboa (1901-1985)

Um comentário:

Isabella F. disse...

Ha Henriqueta...doce saudade de ler amo *_*