Estou de passagem neste mundo,

Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.

Eu sou o peregrino do tempo.


quinta-feira, 8 de março de 2012

Nossas vizinhas beatas, vira e mexe, criticavam minha mãe, que não participava das reuniões religiosas.

Quando ia brincar nas casas dos amigos, suas mães me pressionavam. O que para mim é errado. Envolver criança em conversa de adulto? Que maldade.

Eu estava assistindo desenho, na minha casa, mas perdi o interesse. De repente, achei-me olhado para a janela, com os olhos vidrados no silêncio da samambaia. Minha mãe passou por mim e percebeu essa viagem.

“O que foi, meu anjinho? Que carinha é essa?”

Então o assunto apareceu e eu perguntei por que ela não ia à igreja. A resposta veio com uma pergunta:

"Cris, tua mãe vai fazer o que na igreja?"

"Rezar"

"Rezar, eu rezo aqui"

"Mas a igreja é a casa de Deus"

"Que nada. Deus tá aqui, quer ver?"

Fiquei assustado e não disse nada.

"Vem cá com mãe"

Levou-me no quintal.

"Tá vendo?"

"Só as árvores e as plantas da senhora"

"Fecha os olhos e fica quietinho"

Fechei.

"O que você tá sentindo?"

"O vento"

"Não é o vento. Isso é Deus respirando"

Quando senti a brisa, pensando em Deus, deu vontade de chorar. Porque Deus tinha tocado em mim; no meu braço; no meu rosto. Alisou meu cabelo. Não ventava na Igreja. Lá, Deus não tocava em ninguém daquele jeito.

"Abra os olhos. Olha pra mãe."

"Tô olhando"

"Quando quiser ver Deus, olha pra natureza."

"Mas a mãe do..."

"Acredita mais na tua mãe ou na mãe dos outros?"

"Claro que na minha!" respondi, convicto.

"Ah, bom"

Ela me deu um cheiro e voltou aos afazeres. Era firme e carinhosa ao mesmo tempo. Uma leoa. Perto dela, eu era uma gelatina. Entramos e eu voltei a assistir desenho. Mas algo na janela puxava meu rabo de olho. Olhei. Era a samambaia acenando. Só aí que eu me toquei que antes não estava ventando.

4 comentários:

Rose... disse...

Boa noite amado escritor...

Linda a passagem que descreveu da vida com sua mãe...
Um grande exemplo de mulher na data de hoje...
Um grande homem só poderia ser gerado e criado por uma grande Dama...
Gostaria de saber o nome de sua mãe, se me permites que eu saiba...

Um beijo soprado no sereno...

Anônimo disse...

Lindo como tudo aquilo q nos faz ser quem somos!

Kizzy disse...

Glória. Rose, o nome dela era Glória.
Obrigado, Rose e Evan.

Rose... disse...

Glória a Deus nas alturas,
Paz aos de boa vontade,
Que todas as criaturas,
Sigam a caridade...

Glória... lindo nome Kizzy...esta é uma passagem de um dos livros psicografados pelo Francisco Cândido Xavier, não lembro se é de André Luis ou Emmanuel, mas lembro de ter lido...
Pois é, sou uma espírita kardecista que ama literatura fantástica recheada de monstros sanguinários...riso...vai entender, não é?

Um beijo soprado no sereno...