Estou de passagem neste mundo,

Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.

Eu sou o peregrino do tempo.


terça-feira, 16 de setembro de 2008


Meu encontro com a prefeita

Ah, outra história. Conheci Lygia Fagundes Telles há alguns meses e ontem conheci dona Marta Suplicy. Podia fazer um relato profundo, mas a idéia é falar mesmo por cima, quase um flash, mas mesmo assim acho que o texto pode ficar longo. Acontece que conheço seu Ignácio de Loyola Brandão de algumas maravilhosas palestras dele e poucas conversas, ainda que tenha lido um livro só (um livro infanto-juvenil mas não menos magnífico) e também suas crônicas de quando assinava o Estadão. Recentemente consegui comprar o Não verás país nenhum edição de luxo comemorativa dos 25 anos. Também sou muito fã do trabalho de dona Lygia, muitas vezes me enveredei pela Academia Paulista de Letras com os livros dela na mão pedindo autógrafos. Dona Lygia, sempre gentil e na maior simpatia me recebia, deixando os autógrafos sempre para a próxima vez e disse-me que era pretexto para eu voltar; então me convidava para tomar uma cerveja com ela na sala privativa dos imortais tão misantropos, a exceção é Loyola, Mário Chamie e a própria Lygia. Nem imagina como me senti, né? A conheci no dia dos namorados. Quando perguntei ao atenciosíssimo garçom, sr. José Luis, se podia fumar, alguns célebres velhinhos ouviram e me olharam com estranheza. Foi aí que vi os pratos, e grandes cinzeiros de vidro diante de cada um deles. Havia cinzeiros por toda parte. Só não tinha mais cinzeiro do que livro. Nem todo escritor fuma, mas esse vicio é recurso da maioria. Ao virar-me para seu Zé Luis, ele já me aguardava com o isqueiro aceso. Esparramei-me numa confortável poltrona de couro, larguei a mochila no carpete e fingi que era Oscar Wilde. Então fiz uma pose blasé assim brincando sozinho. Já que os imortais insistiam em me ignorar. Bom para mim, não sabiam quem eu era, mas como me viram entrar a convite da dona Lygia, não foram deselegantes perguntando. A priori, a palavra dela ali é lei. Ela é a líder, rainha, porta voz. Invejada por uns e admirada por outros. Deu para cheirar isso a quilômetros de distância, apesar do verniz. Aliás, tinha falado de Capitu e havia o repórter da Veja fazendo matéria, mas via-se que Lygia roubava a cena e Ignácio de Loyola nem tinha aparecido, apesar de satisfeito de pertencer à ilustre galeria, não dava tanta bola. Na verdade existem dois lados e um deles trata de vaidade e, mesmo vaidoso, Loyola, tem seus limites. Talvez pense como eu: quero sim ser reconhecido, mas se não for pelo meu trabalho, não vale a pena. Aparecer por aparecer, até a mais patética criatura aparece.
Encantada com os lírios eu lhe dei, a maior escritora viva dessa pátria chamou-me à mesa, e eu, aos delírios, sentei-me ao seu lado que era justamente na ponta da mesa. Passado a brincadeira de poderoso chefão, perguntei-me: para quê eles se reúnem aqui? Ah, é para resguardar a memória e a dignidade da literatura? Algo assim. É missão. E é missão deles e só eles estão aptos a fazer, daí a importância da Academia, acredito eu.
Ontem fui levar meu novo livro para seu Ignácio e um para dona Lygia como prometi a ele quando nos encontramos este sábado no dia do lançamento na Bienal, ambos alegres de vinho (também é comum escritor beber muito). Ele disse para ir a academia, que ia falar de Kafka, Legal, respondi. Mas ele não foi e falaram de autores bêbados na palestra, quem disse que eu assistiria? Mas entreguei o livro da Lygia e ela não me pareceu tão gentil, estava cansada, ajudara a organizar uma festa para Antônio Cândido, disse-me, embora repentinamente, depois de 5 encontros, passou pela minha cabeça que ela sempre se esquecia de mim e que toda vez que me via era a primeira vez. Será? A sala foi invadida nesse instante por um séqüito de repórteres, muitos empunhando câmeras de filmar e fotografar; Marta Suplicy entrou na sala e fiquei admirado em vê-la. Cumprimentou a todos, até a mim (enfim alguém me cumprimentou naquela sala). Ser invisível era minha estratégia, mas já tinha cansado disso. Queria me comunicar com eles, aprender. A ex-prefeita, candidata outra vez, entregou o plano de governo, mas me notou de novo (será que era por que estávamos com a mesma cor de cabelo e penteado?) e acabou falando, Você é muito jovem. Sou só um jovem autor, respondi. Aspira um lugar aqui?, perguntou. Não por enquanto, mas já divido o ideal. Obrigado por ter construído os Céus. Moro no Itaim Paulista, sabe? Tinha de viajar de lotação trem e metrô para fazer minhas pesquisas na Mário de Andrade (biblioteca). Agora, com o Céu Parque Veredas, é praticamente atravessar a rua. Biblioteca maravilhosa, disse eu, Lá fiz algumas das minhas pesquisas para escrever este livro. Dei-lhe meu livro. Ela ficou fascinada, Não sabe como isso me deixa feliz. E eu me senti comovido e culpado. Mas não tinha tempo e contar a verdade e tive de encurtar a história. Não ia contar que era um amigo que tinha ficha lá e pegava os livros pra mim. Mas o que importa, não vieram da biblioteca do Céu de qualquer jeito? Saí de cena, não queria atrapalhar. Sentei-me no corredor para fumar e, claro, trouxe comigo minha cerveja tão carinhosamente servida por Zé Luis. Um homem com uma filmadora profissional no ombro apareceu, anotou meu telefone e perguntou se não podia dar um depoimento dali a pouco. Disse que sim, mas quando entrou na sala solene para sessão plenária, liguei para a editora (Novo Século) pedindo para encontrarem minha assessora de imprensa; minha não: de todos os autores da editora. A assessora não me ligou. Talvez não tenha sido encontrada. Então eu não voltei. Tratei de me mandar, acho que essa história vai para mesa de bar. Política é coisa complicada. Penso que a publicidade gerada poderia me ajudar a divulgar o Diário da Sibila Rubra. É importante divulgar o livro, senão as pessoas não ficam sabendo que ele foi escrito, não o procuram para ler e a novela sempre estará ali, sempre a mesma, moldando sempre. Ah, eu disse que o Walcyr Carrasco virou imortal? O que eu estava fazendo ali? O futuro da Academia e da memória da literatura estava em mãos competentes e eu serei sempre um aprendiz – Graças a Deus!
Não voltei lá. E acho que nem voltarei. Depois dou um jeito de entregar meu romance recém lançado para o Loyola, acho que ele dará uma palestra ali com a Nélida. Ah, a Nélida, ainda não a conheço pessoalmente. Lá vou eu de novo... Claro! Ora essa, jamais conhecerei Machado de Assis além do que se está em seus livros. Sim, os livro são mais importantes, mas não diga que você que é cantor que não queria ter conhecido o Elvis. Como disse, sou aprendiz e há alguns mestres vivos, verei o que eles têm para me ensinar.
Quero me aprimorar mais e mais.

Kizzy Ysatis
Agosto de 2008

3 comentários:

Anônimo disse...

My sweet friend,

Fiquei maravilhada com sua história!!! Dei boas risadas na solidão desta noite fria.


Darkisses,
Lu

Denize Müller disse...

Digo e repito, meu doce vampiro ... Você já é um imortal.
Pela forma e pela escrita.
Te amo ......

Kizzy Ysatis disse...

Lu

Que história doida, né? Achei a Marta super simpática.

bjs
......

Denize

Se é você que está falando, eu acredito. Estou com saudades.

Tb te amo
mil beijos mil