
Assombrando Mogi das Cruzes: espectros do passado, memórias do futuro. (parte um de dois)
Estive em Mogi das Cruzes hoje como o espectro de mim mesmo, revirando lembranças de gavetas emperradas na cômoda do anteontem. Desembarquei do trem no centro da velha terra do caqui; passei pelas mesmas ruas que costumava perambular; visitei alguns sebos, mas não comprei livro algum. A nostalgia me devorava dum jeito que a letra não conta, sonda. Limito-me a dizer que me comovi e deixei que as pernas me levassem pra onde quisessem sem perguntar, mas sabia aonde iam e mesmo assim deixei.
Estive em Mogi das Cruzes hoje como o espectro de mim mesmo, revirando lembranças de gavetas emperradas na cômoda do anteontem. Desembarquei do trem no centro da velha terra do caqui; passei pelas mesmas ruas que costumava perambular; visitei alguns sebos, mas não comprei livro algum. A nostalgia me devorava dum jeito que a letra não conta, sonda. Limito-me a dizer que me comovi e deixei que as pernas me levassem pra onde quisessem sem perguntar, mas sabia aonde iam e mesmo assim deixei.
Diante da velha casa, uma das casas da saudosa infância, lembrei da mãe perdida e a vi, em minha mente, caminhar no quintal e acenar pra mim, até eu estava ali, mas era um garotinho a brincar no quintal, Quem é o moço no portão, mãe?, É um homem que veio dizer que vai cumprir a promessa que fez a um menino, Que menino, mãe? O menino que ele foi um dia. Dito isso, minha mãe, aquela bruxa ligeira, desapareceu junto com o resto da miragem e a casa voltou a ser abandonada e sombria. Não consegui conter o choro.
Refiz o caminho da escola: Leonor de Oliveira Mello. Conversei com a mulher e pedi que me deixasse visitar meu passado escolar; o pátio, os corredores... Enquanto ela se ausentava pra perguntar na secretaria se podia fazer o dia de um ex-aluno um pouco mais especial, observei, dali da entrada da secretaria, o pátio e o palco que, como tudo de nossa infância, fica menor quando re-visitamos. Olhe só, aqueles bebedores dão no meu joelho; será que eu era assim tão pequenininho? A mulher maldita voltou com a notícia de que eu não podia entrar, deu uma desculpa esfarrapada. Frustrado, permaneci ali naquele instante a divagar no limiar de outrora e de onde não podia passar. Aquilo foi um sinal. Eu não podia passar dali. Senti-me o fantasma que vê e não pode saudar os entes queridos porque morreu e não lhe é permitido retorno. Bateu tristeza. A voz levemente embargada, Tudo bem, disse-lhe com os olhos assim a segurar as lágrimas, ...Tento outro dia. Mentira; eu sabia que não voltaria. Ficou tudo pra trás, aqueles sete anos de aprendizagem e amizade e divertimento e descoberta e... e o que mais? (continua...)
7 comentários:
Que lindo! Me lembrou Antero de Quental...
O espectro familiar que anda comigo,
Sem que pudesse ainda ver-lhe o rosto,
Que muitas vezes encaro com desgosto...
E outras muitas ansioso espreito e sigo,
É um espectro mudo, grave, antigo,
Que parece a conversas mal disposto...
Ante esse vulto, ascético e composto,
Mil vezes abro a boca...e nada digo.
Só uma vez ousei interrogá-lo:
Quem és - perguntei com grande abalo-,
Fantasma a quem amo e a quem odeio?
–Teus irmãos – respondeu – os vãos humanos,
Chamam-me Deus, há mais de dez mil anos...
Mas eu por mim não sei como me chamo...
vc me deve uma visita aos sebos de lá.
Essa visita à escola antiga é muito boa mesmo! Eu já fui à escolinha onde estudei desde o maternal até a quarta série. Realmente tudo é muito pequeninho, um aluno me chamou de tia, falei com uma das professoras que me alfabetizou...
Várias coisas para se ver!
Recomendo a todos!
Lu
que poema lindo!
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Zed
foi-se o tempo dos sebos de mogi, levei aquela lista que me passou mais umas cositas que tenho procurado, mas o acervo de lá anda uma pobreza sem tamanho. uma porcaria, mudou de dono e ficou uma bosta. :P
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Su
obrigado pela mensagem. é verdade, a gente reconhece o lugar mas não entende por que tudo encolheu. rsrsrsr
Adorei o seu texto sobre a visita á súa infancia, a sua mae, muito emocionante e lindo, tambem triste... mais e tao bom lembrar a época de cando eramos crianças. Sempre levamos con nosotros a esencia do neno que fomos. Vc é um menino grande afortunadamente. Eu gosto muito de ser nena. A foto é preciosa!!! Beijos e abraços desde Espanha!!! Marta Sereia
Como é saudosista esta crônica.
Ao falar dos bebedouros, recordei-me da minha escola de outrora, que era um colégio de padres e possuía uma série de restrições, entre elas a impossibilidade de se utilizar o bebedouro por um mero capricho da diretora. Ousássemos enfrentar suas proibições e à diretoria nos mandariam... Coisas incompreensíveis.
Aguardamos a segunda parte.
Mas como assim, descobro que minha inspiração para postar no blog insonia é um dos colaboradores tb!!!! Bom só queria dizer q li e amei seu livro " Clube dos Imortais" mas que infelizmente vou ter que pensar em outro assunto para postar lá...bjus
=**
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