Estou de passagem neste mundo,

Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.

Eu sou o peregrino do tempo.


sexta-feira, 22 de maio de 2009

Poupatempo versus tempo de espera


por Cristiano Marinho

Dizem que o brasileiro tem memória curta, mas até que ponto isso deve ser levado em conta em relação aos serviços prestados pelo Poupatempo, deste 1996 até hoje? Passados mais de 10 anos, ainda se auto-elogiam em dizer que são uma maravilha, uma evolução na prestação de serviços à comunidade. Sim, são. Tiramos antecedentes criminais em 10 minutos, e uma primeira via de RG em quatro horas, sendo que se levava até 90 dias para se tirar uma cédula de identidade antes do Poupatempo. Quem aqui se lembra que o cidadão tinha de ir à delegacia sujar os dedos como qualquer... Criminoso?

Como cidadão, me encostei em alguns balcões em busca de informação. Claro que tem o balcão de informação, mas tinha dúvidas específicas das quais fui pescar no local certo. Anos atrás queria tirar meu passaporte e fui ao Poupatempo, onde há uma agência dos Correios, e nos Correios se tirava passaporte. Descobri que levava 7 dias porque ia de sedex e isso e aquilo, então era um serviço que não era tão rápido, já que se tira em 24 hs no shopping Tatuapé. Era sobre isso que eu ia direcionar este texto sobre o Popatempo. Resolvi investigar há quantas andava o serviço hoje em dia; e fiquei feliz ao saber que o serviço lerdo não era mais feito ali. Que bom, já que o Poupatempo tem fama de ser ligeiro.

Aquele serviço de passaporte depunha contra, ainda que fosse dos Correios. Ah! Mas era o Correio que ficava no Poupatempo; enfim, sem ter mais um serviço a investigar para a nota do semestre, fui falar com algumas pessoas. E eles sempre reclamando da demora da espera. Uma funcionária, quando perguntei se as reclamações vinham apenas dos jovens, que não pegaram a época do engordurar do dedo com graxa na delegacia, ela me disse que as reclamações vinham de todos.

Desconfiada de que eu fosse um jornalista, passou a tecer milhões de elogios ao órgão do governo, mesmo eu me identificando como um estudante, e não menti quanto a isso. A funcionária disse que eu precisava de autorização para entrevistar alguém, até mesmo um cidadão livre. Brincadeira? Desse serviço do Poupatempo eu não sabia. Então eu iria conferir e cronometrar, para num futuro ver o avanço do sistema. É um serviço indireto, eu chamaria de Serviço de Atendimento e Autorização à Imprensa Livre; tudo bem é uma ironia; já que, respondendo minhas perguntas, os funcionários só me prestariam um favor (que não deixa de ser um serviço)... Serviço voluntário. Como das mulheres de meia idade que escrevem cartas aos analfabetos. Estas também não quiseram responder minhas perguntas, já que dessa vez me identifiquei como: jornalista.

Começou então a burocracia. Precisava da autorização. Primeiro passo: ir à administração, lá eu tentei falar com um funcionário. Um homem de trinta e poucos anos que não atendia a ninguém e que se perdeu ao telefone a falar com a família. Ah! Isso deu pra ouvir... Taí: 3 minutos perdidos. Ele me apontou a mocinha: Fernanda. Em conversa, (nossa, ela perguntava mais do que eu) ela me disse que a autorização tinha de ser pega na superintendência através de um telefone. Teria de falar com Fabíola ou Carol.

Ok. Vamos lá. Comprei um cartão... Quatro reais... Me dirigi até o orelhão... Foi mais 1 minuto (2 foi para comprar o cartão); falei com a assessoria de imprensa: nada de Fabíola ou Carol, só Luana, e mais 10 minutos de conversa. Ela me lançou um disparate de que eu precisava avisar o gerente para cada pessoa que eu quisesse entrevistar. Querida, sei meus direitos, a imprensa é livre e o cidadão tem o direito de querer responder, ou não, as minhas perguntas onde quer que estejam. Na verdade já tinha entrevistado quantos usuários eu quis, meu negócio agora era entrevistar oficialmente um funcionário, já que antes era uma entrevista não oficial e não autorizada, uma sondagem.

Luana, a estagiária da assessoria, me disse que eu só poderia falar com o gerente, Marcelo Ribeiro, 39, e que ele falaria em nome de todos os funcionários do Poupatempo. Incrível! pensei eu, ele é poderoso, detém sozinho a opinião de um mundaréu de gente. Uau! eles pensam em uníssono. Mais um minuto e voltei lá. Perguntei ao homem mal-humorado, que ainda estava ao telefone, provavelmente com a esposa, só isso explica, se ele era Marcelo, outra vez ele apontou Fernanda, que disse que Val já tinha falado comigo.

Oh! Querida, a Val só me disse que precisava de autorização, não me disse onde e nem como obtê-la. Ah, enfado! Ah, fustigação. Mais 10 minutos de espera. Fernanda a falar com Marcelo... Paredes de vidro, literalmente. Divisórias. Estão sondando na internet? Estão me checando no site da Universidade? Sou paranóico?

Veio uma mulher, Ana Paula: Qual o seu nome mesmo, meu jovem? Cristiano, respondi. Mais 2 minutos com ela e depois estava na sala do gerente. Hum... tinha cafezinho, tomara que ele seja educado. Ele trabalhava há oito anos no Poupatempo e havia um e meio que era gerente do Itaquera. Dizia-se fã da empresa... Me deu um monte de respostas rápidas; dessas que parecem padrão; dessas que parecem decoradas. Insinceras. Defendeu-se: disse que minha "matéria" deveria alertar o povo a evitar os horários de pico que eram das 10h às 15h. Marcelo imagina que o Poupatempo ficará melhor se melhorar o fluxo de atendimento inicial. Dos inúmeros serviços prestados pelo Poupatempo, para ele, a maior evolução foi mesmo o RG e o atestado de antecedentes criminais. Agradeci por ter me atendido. No total, para obter o serviço de autorização para poder entrevistar um funcionário (treinado para responder à imprensa) levou o tempo de 29 minutos. Não a entrevista, mas o tempo até poder falar com o dito cujo.

Nossa! Seria mais rápido se eu tirasse meus antecedentes criminais. Ao me levantar, Marcelo me disse: Se precisar de algo, fale comigo. Preciso, sim, disse eu. Me dá um "cafezim".

5 comentários:

Luciana Fátima disse...

Delícia de texto!!! É, criança... quem disse que seria fácil ser jornalista?!!!! hahaha!!!!


Darkisses!

Anônimo disse...

Obrigado, querida!!!!

Sua opinião é muito importante pra mim.

Darkisses

Kizzy

Anônimo disse...

Essa sua óbvia tentativa frustrada de entrevista infelizmente é uma constante em especial nos orgãos públicos!
Não!
Acho que se trata das boas vindas de nossa sociedade...
Aliás me confundo, é uma postura generalizada!!!
Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem...
...as coisas são assim mesmo...
...deixa pra lá...
...vamos empurrando com a barriga...
...e blábláblá...
Que lástima não?!...
Vamos expor o que há de belo...
Não!
O que parece ser belo, e/ou o que pode passar por belo, certo, perfeito e eficiente...
E...
Tome demagogia...
E que empurre, permita e aceite que todos os podres sejam varridos elegantemente pra debaixo do tapete.
E depois dessa "embromation" que você nos expôs, e, que, infelizmente não é nenhuma novidade, muito pelo contrário, não só os funcionários e/ou colaboradores de serviços totalmente incompetentes (sejam públicos ou privados), são omissos, indiferente á real necessidade de melhoria e/ou medança geral; como infelizmente o próprio povo, mesmo sendo o mais, se não, único prejudicado, se dispõe á bajular, elogiar e apoiar tais serviços, patéticamente em troca de...
...um boné, uma caneta, uma camiseta, um trocado e/ou pior ainda, já se sentem satisfeitos de saber que aparecerão na tv!!!
É muita coisa tem que mudar...
Á começar urgentemente pelas pessoas, suas atitudes e, não menos, sua total falta de atitude.
Tomo a liberdade de deixar o endereço de meu blog pra você, cola lá, será um imenso prazer recebê-lo!
http://cid-5b8234672014cfbf.spaces.live.com/?_c02_vws=1
Um forte abraço
A gente se esbarra
Bye
Claudia

Ítala disse...

Olá Kizzy!
O seu 2º livro está imperdível. A intertextualidade apresentada durante os capítulos, com trechos de importantes obras da Literatura, torna o livro muito rico e digno de reverências. É, você se superou e merecia outros prêmios.
Maravilhosos os capítulos da fogueira, da lenda de Apolo e Jacinto contada pela sibila, os flash backs dos momentos vividos pelo vampiro com o poeta (O burgo dos estudantes)... "Terra: a última morada do cristão. Barro. A cor da vida e da morte". Os efeitos visuais e sensitivos provocados com a leitura ajuda a entrar na atmosfera das feiticeiras, dos vampiros, dos lobisomens, dos poetas byronianos...
Gostei também da retomada das lendas populares. Abraçosss!

Wilson Domeneghetti disse...

Sua ironia é elegante e o climax, ácido. Adorei cara, mandou bem mesmo.