Estou de passagem neste mundo,

Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.

Eu sou o peregrino do tempo.


domingo, 26 de fevereiro de 2012


Eu me lembro, que quando minha mãe partiu, descobri que a morte era a coisa mais dolorida do mundo. No entanto, quando a tia gorda veio cuidar da gente, descobri que o amor confortava, e que nós aqui em casa não estávamos sozinhos. Lembro-me que quando meus primos Douglas e Danilo vieram nos visitar, eles me alegraram. Eu os levei pelo bairro para passear, então me veio a ideia de lhes mostrar um lugar especial. Não disse o que era, mas eles confiaram cegamente. Embarcamos no trem e fomos para Mogi das Cruzes. Eu os levei para a montanha mais alta. Pelo caminho, brincamos e rimos de nossas piadas mais bobas. Douglas reclamou da subida, mas não desistiu. Ele não sabia, mas era um lugar onde certa vez levei minha mãe. Chegamos ao alto da montanha, quietos e pasmos. O cansaço de Douglas pareceu se dissipar com as nuvens. Seus olhos percorreram o horizonte de uma paisagem lindíssima. Na descida, voltamos a fazer gozações e Douglas brincava: “Cris, você trouxe a gente aqui pra subir esse morro?” Perguntei se ele estava arrependido. Ele disse que não. Lá de baixo, o morro era tão alto e distante que parecia impossível imaginar que tínhamos subido. Aquela imagem ficou gravada na memória. Fomos ao shopping lanchar. Depois, voltamos para casa. Pelos anos que se seguiram, todas as vezes que me encontrava com o Douglas e o Danilo, a gente se lembrava de nossa aventura. Um dia, a tia gorda disse tchau. Tempinho depois, o Douglas disse adeus. Não sei o tamanho dos meus dias, mas hoje posso dizer, com certeza, que tanto do outro lado quanto deste há quem nos espere. Há quem nos ame. Há quem nos ampare. E que bom que o Douglas voltou a enxergar, pois agora poderá revisitar a montanha quantas vezes ele quiser, sem se cansar.

Boa viagem, primo.
Com carinho,
Cris.

Um comentário:

Karina souza disse...

São dessas pequenas lembranças, as vezes muito simples, que nos trazem a alegria de relembrar com carinho aqueles que se foram.